Empresas e lideranças estão alertas às tendências comportamentais e mercadológicas para quando possivelmente a vida regressar ao “normal” (seja qual ele for). A pandemia provocada pelo novo Coronavírus mudou drasticamente os hábitos na economia global e nos ambientes de negócio, por consequência.
Nas rodas de conversa entre consultores e C-levels, muitos atestam que é impossível sair de todo esse processo que estamos vivenciando como a mesma pessoa, ou o mesmo indivíduo. Para eles, é praticamente também impossível atravessarmos esse maremoto e deixarmos esse período como a mesma companhia ou organização em termos de construção de cultura.
No entanto, estudiosos e profissionais ainda afirmam que cada ser humano ou empresa tem seu “timing” para trabalhar tais mudanças. Isso faz parte da diversidade que tanto discutimos no cenário comunicacional.
Digital First
Para Flavia D’Urbano, consultora de Recursos Humanos, o atual momento não só estimula a concorrência como é considerado extremamente fértil. “O cenário de escassez favorece o desenvolvimento de novos produtos e serviços. E é muito puxado pela estratégia digital first”, afirma.
Segundo o estudo “Panorama PMEs: os impactos da Covid-19 e os passos para a retomada”, elaborado em parceria pela Resultados Digitais, Endeavor Brasil e Pequenas Empresas, Grandes Negócios, os modelos de vendas sem presença física tiveram uma vantagem competitiva.
Conforme a pesquisa, as empresas que possuem equipes de vendas e atendimento de campo tendem a sofrer, na média, mais impacto em relação aos novos modelos de gestão quando comparadas, por exemplo, às equipes da operação.
Naturalmente, isso decorre do fato que tanto o cliente, que está acostumado a atender essas empresas, passou a não estar mais presente fisicamente, quanto das próprias equipes comerciais e de campo que ficaram impossibilitadas de se deslocar. Além disso, para os casos onde o cliente é flexível para ser atendido remotamente, a falta de processos/ferramentas para que essas empresas consigam executar as tarefas pode dificultar a produtividade.
“O processo de digitalização acontece há anos. Foi intensificado a partir das medidas de distanciamento social, sendo prioridade institucional somente quando os C-levels deixaram os discursos ‘de aparências’ para, finalmente, praticá-los. O contrário significaria a própria extinção da empresa”, explica Flavia.
Futuro Pós-Vacinação
As circunstâncias pandêmicas atuais remontam aos tempos de cenários pós-guerra, onde imperam dores e incertezas. Contudo, vale lembrar que esse coletivo foi responsável também pela maior revolução científica e tecnológica em diversos períodos da história. Para deixar esses sentimentos de lado, todos precisam voltar seus olhares ao futuro e às possibilidades.
As mudanças já são percebidas, mas ainda estão em processo de entendimento por diversos agentes decisores, avaliam especialistas.
“É claro que, quando controlada, a pandemia do Coronavírus nos deixará um importante legado. Mas, até lá, as organizações ainda se preocuparão com o fluxo de caixa, as incertezas quanto à saúde e ao bem-estar social, o ritmo lento da vacinação e isolamento baixo, a alta da moeda norte-americana e a hiperinflação, o clima político tenso e uma recessão econômica”, afirma Leila Gasparindo, CEO do Grupo Trama Reputale.
Nessa perspectiva, duas indagações importam: como as empresas e pessoas podem prever e se antecipar às mudanças? Elas estariam devidamente preparadas para um mundo pós-vacina?
Segundo Flavia D’Urbano, no primeiro momento, a maioria das PMEs se debateram para sobreviver. “Parte delas possuía menos de seis meses de disponibilidade de fluxo de caixa. Quando foi necessário revisitar o plano de curto prazo, o que importava era a saúde financeira e os ajustes imediatos”, pondera.
As empresas com melhor saúde financeira puderam priorizar o seu core business e repensaram a oferta de novos produtos e serviços. Tiveram tempo de estudar e se inspirar nas marcas que dominam o segmento ou explorar um novo mercado em potencial.
“A vantagem está no ‘timing’. Quanto mais a empresa estudar as tendências, monitorar o ambiente e as mudanças, mais chances de sucesso. É interessante que exista uma área com foco de oportunidades, previsões”, diz a profissional de RH. E completa: “estratégias alinhadas à omnicanalidade, à hiperpersonalização e ao cliente no centro têm grande potencial de sucesso no futuro”.
Seis tendências para a pós-pandemia
1- Crescimento da terceirização
A pandemia piorou os índices de desemprego. Muitas empresas adotaram modelos diferentes de contratação de funcionários, mais informais e menos burocráticos, passando a atuar cada vez mais com profissionais freelancers, ou mesmo, terceirizando setores inteiros que não fazem parte do core business, o que já era um movimento da última década.
2- Cuidados com a saúde e o bem-estar do colaborador
Garantir um ambiente de trabalho saudável e desenvolver a marca empregadora são trunfos reputacionais dos novos tempos. Mas é preciso que esse discurso seja natural e respeitado, da alta liderança até a mais baixa hierarquia organizacional. A cultura do respeito e empatia e a preocupação com a saúde mental dos funcionários vai desde o acolhimento interno, passando pela promoção de bate-papos interativos, até ofertar sessões em plataformas de psicoterapia on-line. Tudo isso compõe o cenário.
3- Deixe o comando e controle de lado
A maioria das empresas precisará de mais inovação para crescer ou mesmo sobreviver no mundo pós-pandemia. Sendo assim, as companhias com mais chances de sucesso são as que investem na reinvenção de seus processos, ambientes mais inclusivos e de acolhimento, com estímulo à autonomia e não mais a uma cultura de comando e controle.
4- Sempre nas Nuvens
O acesso remoto aos dados e às informações do negócio garante o controle e a independência do colaborador. Umas das principais ferramentas que facilita a questão de trabalho remoto é a operacionalização em nuvem. Vale lembrar que esse aspecto também agiliza processos comunicacionais e auxilia questões de Compliance e encaminhamento de dados e informações dentro até do que preconiza a nova LGPD.
5- Teletrabalho e Hibridismo
Apesar do relaxamento no isolamento social, muitas empresas manterão o regime atual e trabalho a distância ou optarão pelo enxugamento dos gastos com infraestrutura e deslocamento dos colaboradores. Isso significa um modelo de cada vez mais híbrido. Dito isso, é importante pensar em como continuar cirando conexões emocionais entre a empresa e seus times, líderes e liderados e entre pares. Esta aí um dos maiores desafios do RH, durante e pós-pandemia.
6- Segurança da Informação
Para evitar invasões de hackers, é essencial que a empresa invista em proteção de dados. Dupla-checagem de cadastros e usuários no ambiente online serão cada vez mais necessárias, principalmente em plataformas que viabilizam o trabalho remoto. Longe dos olhos, muitos usuários e colaboradores tendem a afrouxar a preocupação com tal cenário. Então, vale sempre a liderança sobre retomar diálogos de sensibilização e aculturamento a respeito do tema.