A pressão no ambiente de trabalho, as cobranças e inseguranças quanto à carreira são algumas das fontes de adoecimentos psíquicos, temas sensíveis e bastante presentes nas organizações hoje. A situação se intensifica em um cenário pandêmico, com futuro instável e medidas de isolamento que parecem nunca acabar. Confira nesse texto, insights, ideias e projetos para inspirar a sua empresa a dar o primeiro passo para estabelecer um Programa de Saúde Mental bem estruturado aos colaboradores.

 

A OMS estima que cerca de 350 milhões de pessoas no mundo têm depressão. Além da depressão, a bipolaridade e a esquizofrenia estão entre as 20 principais causas de incapacidade.

Socialmente, sofrimentos psíquicos não são considerados doenças pelas pessoas que não as possuem, por isso, quem está ao redor nem sempre dá a atenção necessária a estas questões. Mas mesmo que as pessoas estivessem dispostas a apoiar quem sofre com esses transtornos, o que eles poderiam fazer de fato? Aí que está a grande questão.

Você sabia que apenas 18% das empresas têm programas voltados para a saúde mental de seus colaboradores, segundo uma pesquisa da Isma-BR, representante local da International Stress Management Association, organização sem fins lucrativos dedicada ao tema?

Outro estudo feito pela Regus com 16 mil pessoas, identificou que para 60% dos entrevistados o trabalho é fonte de estresse, irritação, cansaço e ansiedade. Excesso de demandas, poucas recompensas e instabilidade são apontados como principais causadoras desses problemas. Como consequência, tais fatores causam o afastamento em excesso nas empresas.

 

A Comunicação como importante aliada das empresas

 

Antes de entendermos maneiras de lidarmos com a situação, é importante ressaltar que não existem direcionamentos concretos, já que cada pessoa é de um jeito, mas uma solução é comum a todas elas e aos seus problemas: a comunicação.

Então, pensando em mercado de trabalho, precisamos utilizar o diálogo como principal ferramenta ao lidar com pessoas que estão em sofrimento, essa é a principal maneira de estabelecer contato para oferecer apoio.

 

Programas de Saúde Mental

 

Uma pesquisa de 2016 da Sodexo apontou que as empresas que investem em saúde mental e qualidade de vida são, em média, 70% mais rentáveis que a concorrência e 86% dos entrevistados alegaram melhora na produtividade, o que indica que os programas de qualidade de vida são investimentos importantes para todos os envolvidos.

Antes de estabelecer quais as iniciativas o seu programa de saúde mental oferecerá, é importante realizar uma pesquisa e ouvir as dores dos seus colaboradores, afinal, já destacamos que a comunicação é muito importante quando falamos sobre o tema. Algumas empresas já passaram dessa etapa e agora possuem programas estruturados para a saúde mental. Vamos aos cases!

 

  • Netflix

O serviço de streaming oferece autonomia ao público interno: os colaboradores podem escolher seus horários e dias de trabalho, o período e tempo de férias. Confiança também cria um ambiente acolhedor, não é mesmo?

 

  • Nubank

A startup oferece aos colaboradores e dependentes uma assistência psicológica, jurídica e financeira 24h, durante toda semana, assim seu público interno se sente respaldado por profissionais qualificados.

 

  • Unilever

A empresa oferece um benefício que ajuda os colaboradores a gerenciarem transtornos de estresse e ansiedade por meio da psicoeducação para ensinar a identificar gatilhos e técnicas para combatê-los.

 

Caminhos mais Simplificados

 

Caso não seja possível criar um programa super estruturado, com diversas iniciativas como as citadas anteriormente, algumas outras ações simplificadas, que demandam investimentos bem menores, podem auxiliar os colaboradores da sua organização que estejam passando por transtornos psicológicos.

 

  • Sessões de Terapia

Sessões de terapia individuais possibilitam que as pessoas tenham um ambiente seguro para falar sobre seus sentimentos e o resultado são colaboradores que entendem melhor como se expressar sobre os problemas que vivenciam e de maneira mais empática no ambiente de trabalho.

Trata-se de uma iniciativa que pode também colaborar para manter as pessoas conectadas emocionalmente à sua organização, uma vez que em momentos pandêmicos, diante da imposição do sistema de trabalho remoto, algumas podem estar se sentindo angustiadas e isoladas, distantes de seus pares.

 

  • Rodas de Empatia

Falando sobre isolamento, durante a quarentena muitos times estão com problemas de integração, já que antes era comum conversarmos com os colegas durante o cafezinho e agora estamos trabalhando quase todos dentro de nossos lares.

Rodas de Empatia são momentos em que as equipes se reúnem e conversam sobre um ponto em comum. Um momento sem crachá e de coração aberto. Diversas organizações, como a farmacêutica Novartis, implantaram a iniciativa com eficácia a já colhem os frutos da empreitada.

 

  • Pausas Estratégicas 

Outra ação bacana pratica já por algumas organizações é travar a agenda para que todos tenham pausas de 15 minutos para tomar Sol, alongar ou até descansar um pouco.

Dedicar um dia inteiro da semana para que as equipes não participem de reuniões via Teams, zoom ou plataforma similar também tem sido uma iniciativa considerada por várias empresas, visando à preocupação com o excesso de conferências e acúmulo mental de informações oriundas destas.

 

CNV para as Lideranças

 

A Comunicação Não Violenta certamente é nossa maior aliada nos dias atuais. É importante que as lideranças tenham a sensibilidade para escutar de maneira empática e perceber quando há necessidade de prestar algum tipo apoio, ouvindo sem julgamentos.

Isso ajuda quem está passando por sofrimentos psíquicos, embora isso não se restrinja somente a eles. É algo que deve ser praticado, todos os dias. 

Conversamos com a psicóloga Silvana Bernardo que falou sobre campanhas voltadas à saúde mental dos colaboradores.

 

silvana-bernardo-psicologa-blog-trama-comunicacao

 

 

“As ações são sempre interligadas no ambiente potencializador de acolhimento, de modo a trazer uma psicoeducação de que o trabalho pode ser um local exigente e que há uma pressão que pode resultar em sofrimento, e que isso pode acometer a todos nós. É a partir dessa cognição que nos prepararmos para encarar os problemas de fato”, avalia ela.

 

 

 

 

 

A promoção de campanhas que aproximem da própria organização determinadas visões empáticas para maior compreensão acerca de como o sofrimento psíquico é algo singular e inerente a todo ser humano é o caminho mais assertivo. “Dentro de nós possuímos nossas condições físicas e mentais, ambas conversam entre si e geram sinais de alerta. Precisamos estar atentos, saber identificá-los”, argumenta.

Sobre criar ambientes empáticos, Silvana diz:

 

“promover um espaço de como poder auxiliar uma pessoa em sofrimento psíquico acredito ser um grande passo. As pessoas podem ter intenções genuínas de preocupação com o outro e eventualmente podem vir com uma maneira rígida de como ela irá melhorar se seguir determinados passos. É quando entendemos que cada sofrimento irá se manifestar de maneira diferente que melhor respeitamos o espaço do outro e mostramos o apoio com a possibilidade do que para ela é o melhor, naquele momento. E a partir disso a equipe se transforma em uma rede de apoio verdadeira”.