Em um nível primário, a Comunicação Interna é a ferramenta responsável por disseminar os códigos e boas práticas que dão vida à cultura organizacional de uma empresa. É a “voz” que compartilha, educa, sensibiliza sobre os “do’s” e dont´s” dentro do contexto específico e único de um grupo. Mas não se trata apenas disso. Sobretudo quando passamos a olhá-la mais estrategicamente, integrando perspectivas.
Mais profundamente, funcionando como verdadeira estratégia de branding, ela é tão forte que, se bem utilizada, pode influenciar na reversão de quadros difíceis pelos quais o negócio possa estar passando.
Transmitir a todos uma mensagem principal sólida, clara e transparente é um passo importantíssimo, pois sem dúvida, os colaboradores precisam ser os primeiros a saber o que acontece no ambiente organizacional. Certo?
Lembre-se do paradigma do funcionário que fica sabendo do novo biscoito que sua própria empresa fabrica na gôndola do supermercado, em uma ida ao estabelecimento num final de semana qualquer. Hora de mudar, ainda é tempo!
Informações reais precisam ser compartilhadas e a possiblidade de diálogo estabelecida. Só pensar em canais, campanhas de CI, cursos e treinamentos sobre oratória, assertividade e bom uso de mensagens-chave institucionais não refletem a grandiosidade da tarefa diante dos nossos olhos.
É preciso desenvolvermos espaços de fala ativa para que seus públicos internos contribuam com visões, opinem, sejam ouvidos, divirjam, critiquem e impulsionem nossos projetos e ideias. Isso é o que dá sentido real à cocriação, a ambientes que priorizam a inovação e estimulam a autonomia e também leva a Comunicação Corporativa a um outro patamar: de empoderamento para si e para todos.
“A Comunicação Interna, se é que é possível ainda essa distinção nos dias atuais, deve atuar em linha com cada movimento externo, com cada posicionamento de marca e vice-versa. Isso é o que chamamos de visão integrada para que todo o público interno se abasteça de insumos relevantes e novas perspectivas, e assim tenham ‘ferramentas e repertórios’ suficientes para ajudar na construção, consolidação ou reconstrução da reputação corporativa”, analisa Adriano Zanni, diretor de atendimento da Trama.
O consultor ainda faz a seguinte analogia: a visão de comunicação integrada permite a construção de uma espécie de “fundo de renda fixa”, uma poupança em longo prazo. É algo que vai sendo edificado, com planejamento e estratégia, até que tal investimento feito seja capaz de enfrentar períodos de eventual turbulência econômica que podem surgir, dando segurança e solidez às ações da própria empresa, tornando-as críveis e mantendo a crença dos investidores, no caso os próprios empregados, que vão se sentindo parte da organização, da sua jornada.
Colaboradores: os verdadeiros influenciadores
Um colaborador satisfeito em fazer parte de uma empresa e que compartilhe valores com ela, vivendo-os de fato nas diferentes situações do dia a dia, certamente pode vir a compartilhar sua opinião favorável sobre a corporação, por meio das redes sociais, seja no seu próprio perfil ou em publicações que a citem.
A Natura acredita nisso, e direcionou seu foco para as pesquisas anuais de clima organizacional. A partir delas, a empresa notou uma identificação muito alta de grande parte dos colaboradores com os propósitos corporativos.
De acordo com Mariana Talarico, diretora de cultura e desenvolvimento do grupo Natura&Co para a América Latina, naturalmente essas pessoas “gostam de falar da empresa e dos produtos para outras. Entendemos que elas queriam ser embaixadoras da marca e então desenvolvemos um grupo interno, nomeado como ‘Por um mundo mais bonito’”.
Por meio dessa iniciativa, a Natura oferece treinamentos e ferramentas para que elas transmitam uma mensagem clara, em forma e conteúdo, a respeito da empresa, nas redes sociais.
Esse compartilhamento de mensagens, no entanto, deve acontecer de forma natural. Cabe portanto à Comunicação Interna apenas orientar o colaborador quanto às posições oficiais da corporação e garantir que mensagens coerentes sejam transmitidas para o “lado de fora”, caso aconteçam.
Tem que ser crível
Não é papel da organização requisitar que essa defesa aconteça, uma vez que descaracterizaria o cerne da atuação do próprio embaixador: comunicar favoravelmente, fazendo uso do seu próprio discurso, da sua maneira de ser, tom de voz e da sua vivência pessoal para influenciar outras pessoas.
Essa vertente da comunicação portanto, empodera os colaboradores por meio de seus textos, falas e ações. Eles podem, então, substituir ou complementar os influencers já tradicionais usados nas campanhas de marketing (especialistas e celebridades que emprestam sua autoridade para chancelar uma narrativa).
Esses novos embaixadores, por viverem a realidade da organização no cotidiano, a conhecem melhor e oferecem ao público externo uma visão mais cristalina da realidade. O resultado é muito mais aprofundado.
Naturalmente conectados
A CHS, empresa líder no agronegócio global com presença na América do Sul desde 2003, tem também entre seus colaboradores embaixadores atuantes, mas sob outro viés: o da responsabilidade social.
Angélica Belotto, gerente de RH da empresa, compartilha que não são necessários grandes esforços para tornar isso realidade, uma vez que essa predisposição em praticar a responsabilidade social é pré-requisito no momento da contratação dos profissionais.
“Esse valor sempre fez parte da cultura organizacional e há todo um cuidado especial na contratação dos colaboradores, nas relações internas, nos nossos processos e no nosso jeito de ser”, revela a gerente.
“As pessoas, em vários momentos, demonstram essa propensão em servir, colaborar e ajudar. Lá na frente, esse fit cultural acaba se refletindo nas relações externas à empresa. Em toda a prática de responsabilidade social, nós temos essa intenção, mas com naturalidade”, completa ela.
Para citar um exemplo simples, a companhia revisitou as questões de uso de plástico dentro dos escritórios e, na sequência, recebeu diversos relatos de colaboradores que optaram por replicar esse movimento também em seu cotidiano fora do trabalho.
Mas não é apenas em situações em menor escala que os colaboradores mimetizam a vocação da CHS para fazer a diferença. Ainda segundo Angélica, a empresa estruturou um departamento focado na sustentabilidade, que se divide em três frentes: meio ambiente, viabilidade econômica e comunidade e bem-estar. É nesse terceiro item que residem as iniciativas voltadas à responsabilidade social e a decisão quanto a quais projetos devem ser apoiados parte dos próprios colaboradores.
O pilar “Comunidade e Bem-Estar”, por sua vez, também é subdividido em mais de uma área de atuação. As prioridades para a CHS no Brasil são a Educação, a Nutrição, a Cultura, a Segurança, a Saúde e o Meio Ambiente.
“A cada ano, nós optamos por apoiar diferentes projetos dentro dessas vertentes”, aponta Angélica, que complementa indicando que “como a empresa entende que os colaboradores são nossos maiores experts na manutenção dessa cultura interna e por alguns deles conhecerem as localidades que mais necessitam de ajuda, a escolha final dos projetos parceiros só é feita com concordância deles e, em muitos casos, as sugestões partem deles”.
A CHS tem como um dos seus propósitos o “estar conectado”, seja para fortalecer a agricultura, seja para continuar reforçando a ideia de que todos os profissionais que a compõem dependem uns dos outros, formando uma corrente que fortalece o negócio e que, consequentemente, em seguida, beneficia a sociedade.
Essa noção é tão clara para quem vive o dia a dia da companhia, que, de acordo com Angélica, “muitas pessoas que se desligam da empresa acabam retornando, justamente por conta desse movimento de engajamento em criar um ambiente respeitoso, com um espírito de equipe vivo, e que se extrapola os limites da organização. Tudo isso, sem uma estratégia definida porque as nossas pessoas escolhem fazer acontecer e, assim também levam nossas mensagens às comunidades em que se encontram inseridas”.