Proteína sintetizada pela startup Biolinker já está sendo usado por várias universidades do País
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Para facilitar a testagem da Covid-19 no Brasil, a Biolinker, startup de biotecnologia residente na Incubadora USP/IPEN-Cietec, forneceu a proteína sintetizada do coronavírus para pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo de ajudar na viabilização da aplicação em massa do teste rápido da doença.
A tecnologia também será capaz de revelar se a pessoa que tomou uma determinada dose de vacina já produziu anticorpos, podendo auxiliar o médico a identificar a necessidade de acompanhamento do paciente no processo de imunização. Além disso, o dispositivo permitirá ainda o rastreamento de imunidade de variantes do vírus.
Como funciona
O dispositivo analisa uma gota de sangue retirada do paciente em busca de anticorpos que permitam detectar a doença. Para baratear sua produção, os pesquisadores utilizaram a estratégia de otimizar a quantidade de insumos do material e utilizar nanopartículas para a localização dos anticorpos.
As nanopartículas são imprescindíveis na reação que indica a presença dos anticorpos na corrente sanguínea do paciente. A molécula que contém a proteína do coronavírus foi sintetizada no laboratório da Biolinker, na Incubadora USP/IPEN-Cietec.
Os pesquisadores utilizam a informação genética do vírus e inserem em bactérias que se multiplicam e produzem a proteína em larga escala, em seguida, ela é purificada. Esta técnica difere bastante das que costumam ser usadas nos testes importados. “A produção em bactérias é muito mais barata e escalável do que a produção em células humanas, e isso reduz muito o custo”, afirma Mona Oliveira, CEO da Biolinker.
Além da USP, outras universidades brasileiras estão usando as proteínas da Biolinker para projetos de P&D na área do Covid-19.
O estudo
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
O estudo foi coordenado pelo professor do IQSC, Frank Crespilho. Além do docente e sua equipe, a Biolinker e a doutoranda do IQSC, Karla Castro, pesquisadora da rede MeDiCo, também participaram da pesquisa e desenvolveram o teste no tempo recorde de cerca de quatro meses.
O grupo do Prof. Frank Crespilho é referência internacional em desenvolvimento de biossensores e nosso colaborador em projetos de pesquisa aplicada e inovação. Com a pandemia, vimos uma excelente oportunidade em participar do desenvolvimento dos bioligantes (moléculas sondas) para detecção de anticorpos do coronavírus”, informa Mona.
Próxima etapa
O teste já está pronto para produção em larga escala e passará, em breve, pela regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
A empresa prevê que o custo para o consumidor seja de R$30,00, praticamente cinco vezes menos do que os testes disponíveis hoje no mercado, vendidos por cerca de R$ 140,00. “Para que o produto possa ser escalonado, é preciso buscar parcerias com grandes indústrias”, ressalta a CEO da Biolinker
Para Sergio Risola, diretor-executivo do Cietec, é preciso que o Brasil aumente significativamente seu investimento em ciência e inovação e fortaleça a chamada Tríplice Hélice, que conecta empresas, universidades e governo, permitindo a geração e a transferência de conhecimento científico para atender as demandas da sociedade. “Claro que essa necessidade depende da realidade que vivemos, da situação orçamentária federal e estadual, mas acreditamos que este cenário atual de pandemia aumentará a união da triple-hélice, bem como os investimentos em pesquisas científicas”, finaliza Risola.