A forma como grandes marcas globais têm evoluído suas arquiteturas de ecommerce, a implementação da cultura de inovação na AWS e a adoção de práticas de sustentabilidade e impacto social no varejo foram alguns dos temas discutidos durante o segundo dia do VTEX DAY, um dos maiores eventos de digital commerce do mundo, realizado em São Paulo (SP).
William Helouani, Global Head de arquitetura e transformação de TI da Electrolux, Lou Canjar, diretor global de TI da Motorola, e Olivier Gibert, Global Chief Technology Officer do Carrefour, dividiram com a plateia do VTEX DAY as trajetórias de suas empresas na adoção de arquiteturas de pragmatic composability.
Helouani explicou como a Electrolux está adotando a plataforma composable da VTEX em todas as suas operações de ecommerce pelo mundo. Até aqui, a empresa tem 19 sites rodando em VTEX na América Latina – a empresa opera 140 países, e deve adotar a arquitetura de microsserviços globalmente.
“Quando falamos de migrar o monolito para uma estrutura baseada em microsserviços e elasticidade, a tendência é querer migrar tudo de uma vez, mas não é estratégico nem economicamente viável”, aconselha o especialista da gigante de eletrodomésticos. “Na Electrolux, o composable commerce vai evoluindo à medida que a empresa ganha maturidade, de acordo com o país, a linha de negócios e cada a marca”, explica, acrescentando que, nas regiões em que já utiliza pragmatic composability, a companhia conta com consistência cross-canal.
Heouani conta que o Brasil e a América Latina são benchmark não só para a Electrolux no mundo, mas para todo o mercado.
Na Motorola, segundo Canjar, o desafio foi contar com sites capazes de transmitir aos consumidores a história da marca e as qualidades dos produtos. Segundo ele, a arquitetura de microsserviços permitiu à empresa estruturar sites nos quais toda essa jornada está coberta. Em suas palavras, de maneira mais bonita e eficiente do que os de concorrentes como Apple e Samsung. “Fizemos um excelente trabalho em otimizar a jornada do cliente e alcançamos resultados recordes nos EUA. Crescemos 36% a comparação ano a ano em um momento em que as outras áreas estavam desacelerando”, disse, referindo-se aos negócios de celulares da companhia.
“A parceria com a VTEX tem sido chave para esse sucesso. Lançamos mais de 30 lojas. Hoje são mais de 40 lojas online no mundo”, contabilizou. Mais do que a capacidade de comercializar, todas elas têm a facilidade para rapidamente integrar processos de pagamentos, de gestão, com escalabilidade e disponibilidade de recursos”, completou.
A abordagem pragmática para o composable também ajudou o Carrefour a acelerar a sua jornada de transformação do comércio digital. Em bate-papo com Alex Soncini, co-fundador e chief of staff da VTEX, Gibert, CTO da organização contou como a gigante supermercadista vem alcançando agilidade de mercado e alinhamento estratégico entre negócios e TI com soluções baseadas em microsserviços. “Tínhamos o desafio de transformar o Carrefour em uma companhia digital que utilizasse tecnologia e dados para alcançar maior desempenho e se preparar para o futuro”, revelou.
O executivo contou que o Carrefour substituiu sistemas de negócios e comércio digital desintegrados por plataformas globais baseadas em microsserviços. A empresa utiliza a plataforma VTEX como base para a sua estratégia de transformação. Gibert afirma que a rede não adotou composable por razões tecnológicas, mas para alcançar uma meta de melhor atendimento ao cliente. “Precisávamos de uma plataforma confiável, estável e que nos permitisse acelerar o time-to-market e garantir melhor experiência aos clientes”, afirma.
O CTO da rede ainda comentou a campanha ao de vendas ao vivo do Carrefour durante o Big Brother Brasil 2023. “A arquitetura composable nos permitiu focar em escalabilidade. Suportamos mais de 38 mil requisições por segundo na ocasião do BBB23”, afirmou Gibert.
Para encerrar o bate-papo, Soncini pediu que o executivo do Carrefour desse dicas para aqueles que estudam iniciar a jornada para composable: “estabeleça limites claros de recursos e quais componentes serão migrados. Comece pequeno e faça tudo orientado ao negócio”, aconselhou.
Cultura de inovação
Começar pequeno foi também a dica de Rory Richardson, diretora da AWS, em sua palestra sobre como a Amazon vem conduzindo a inovação através da cultura.
“É preciso mover lentamente para depois acelerar, fazer o trabalho difícil primeiro para seguir crescendo aceleradamente”, sugeriu. Segundo ela, foi assim que surgiu o negócio da AWS. A empresa percebeu que era mais rápido criar serviços do que desenvolver hardware para inovar.
Criar uma cultura em que errar é permitido é fundamental para conseguir inovar. “Para inventar e inovar é preciso testar e, se você sabe de antemão que vai funcionar, então não é um experimento”, disse Rory, repetindo uma frase de Jeff Bezos, fundador da Amazon. “Inovação e fracasso andam juntos”, afirma a diretora.
Finalmente, diz Rory, dar autonomia e desenvolver o senso de propriedade é chave. “Na AWS, permitimos que o time pense como dono, como líder, que entenda o seu propósito na organização. Isso os leva a criarem melhores soluções”, assegura.
Futuro das lojas físicas
O painel sobre o Futuro das lojas físicas: inovações moldando o varejo do amanhã, Alberto Serrentino Fundador e Conselheiro da Varese Retail, Paulo Correa, CEO da C&A e Ana Bógus Presidente da LATAM trouxeram os questionamentos pós pandemia e a evolução do mercado virtual. “Para entender o que o cliente espera da loja do futuro, é necessário entender quais foram as mudanças que impactaram na vida do cliente, é necessário pensar na loja que venda de diversas formas para o consumidor”, ressalta Serrentino.
Os líderes ainda ressaltaram que o grande desafio é criar um ambiente que construa o melhor entre os dois mundos, e ofereça aos clientes uma forma omnichannel de concentração em todos os canais utilizados por uma única empresa, para melhorar ainda interação com os consumidores.
ESG no varejo
O desafio de implementar práticas e políticas ESG nas empresas de varejo não ficou fora dos debates. Carol Silvestre, head de comunicação global da VTEX, recebeu Rachel Maia, CEO da RM Consuling e presidente do Pacto Global da ONU. A especialista, que já esteve à frente de empresas como Lacoste, Pandora e Tiffany & Co., destacou que, mesmo em meio aos desafios econômicos e financeiros vividos diariamente pelos varejistas, é preciso pensar ESG. “Devem fazê-lo sempre considerando o viés econômico, até porque, do contrário, não se sustenta”, afirma.
E a causa é urgente. “Não dá mais para ignorar a falta de pluralidade do varejo. Não dá mais para ver a pluralidade apenas nas embalagens dos produtos”, disse. A sugestão de Rachel é que as empresas comecem pelo simples. Segundo ela, é através do simples que se vai ganhando consciência.
Falando sobre como os varejistas conseguem já começar a falar de ESG ainda que estejam apenas no início da trajetória, a especialista afirmou que “a transformação é uma jornada. É preciso envolver o consumidor, o parceiro e afins. O escopo 3, que envolve o fornecedor, é parte dos compromissos da agenda 2030. Movimentos simples e cíclicos devem ser feitos a todo instante”, aconselha. “Não tem mágica. A transformação demanda uma jornada e cada um, como indivíduo, deve dizer sim, deve parar de desperdiçar, deve ser inclusivo. E, falando do S, tem que olhar para a equipe e fazer o teste do pescoço”, sugeriu, referindo-se ao ato de girar a cabeça e olhar o entorno. “É preciso gerar pertencimento.”
Rachel lembrou ainda que é na pluralidade que o consumidor e o interlocutor se sentirão confortável com o varejo. “Eu sou pragmática, mas sou simplista. É preciso mudar a partir do próprio ecossistema. ESG não política, é filosofia, é propósito de vida”, finalizou.
Amigos do Bem
Carol Silvestre ainda recebeu no palco Alcione Albanesi, fundadora de um dos maiores projetos sociais do Brasil, a ONG Amigos do Bem. Para Alcione, o ESG será a ferramenta para diminuirmos a desigualdade gritante do Brasil. A instituição atualmente conta com mais de 10.000 voluntários que atuam em serviços junto a comunidades em situação de vulnerabilidade no sertão nordestino.