Pesquisa da Kearney indica que mulheres ainda têm pouca influência em decisões sobre inclusão e diversidade; cenário tem que mudar para que se alcance a equidade
Existe uma tensão no cerne da busca por equidade e diversidade nas corporações, e ela precisa ser solucionada. Os problemas em torno da falta de inclusão no ambiente de trabalho foram identificados, e as organizações vêm tentando solucionar as disparidades de gênero, racial e social. Mas apenas tentar não basta. Apenas otimismo também é insuficiente. Os líderes e as empresas devem agora agir para garantir que o desejo cada vez mais reprimido de um futuro mais diversificado e inclusivo se torne realidade. Isso é o que aponta uma recente pesquisa realizada pela Kearney, uma das maiores consultorias globais de gestão de negócios.
O levantamento revela que as mulheres em posições de liderança de fato acreditam que um futuro com mais equidade irá emergir. E isso é um sonho possível. No entanto, está nas mãos dos atuais gestores começar a transformar o desejo em realidade e pavimentar o caminho para ambientes de trabalho verdadeiramente justos.
E aqui talvez esteja o grande obstáculo ao avanço. Embora o estudo aponte que 95% das entrevistadas acreditam que é provável ou muito provável que o futuro CEO das empresas nas quais trabalham será uma mulher, apenas uma das 1.007 mulheres que responderam à pesquisa disse que sua empresa conta hoje com uma CEO do sexo feminino.
Outro dado que preocupa os especialistas da Kearney é que 42% das entrevistadas acreditam que as políticas de inclusão e equidade em suas companhias deveriam ser mais ambiciosas. Apesar disso, menos da metade das mulheres ouvidas pela Kearney (48%) podem levantar questões sobre o tema em nível do conselho, mesmo que ocupem posições de liderança, vice-presidência e diretoria de departamentos.
A falta de autonomia e capacidade de influenciar mudanças positivas em seu ambiente de trabalho também se revela pelo fato de que menos de 33% das mulheres ouvidas pela Kearney – todas em cargos de liderança sênior – se sentem capazes de influenciar fatores internos e externos relevantes para o tema de diversidade no ambiente de trabalho. Por exemplo, apenas 32% sentem que podem influenciar oportunidades equitativas para o avanço na carreira de sua equipe, e 33% avaliam poder interferir em treinamento e suporte igualitários para suas equipes.
E quando se trata da capacidade de impactar políticas que possam aumentar a diversidade e a inclusão no ambiente corporativo, o nível de influência parece menor do que deveria. Mais uma vez, menos de um terço acredita que poderia influenciar o investimento financeiro para causas de benefício social fora do negócio, impactar D&I na cadeia de suprimentos ou apoiar o empreendedorismo social. Mais uma vez, pelo menos metade das entrevistadas avalia que seria possível fazer mais em todas essas frentes.
O impacto do trabalho híbrido
Cerca de 60% das entrevistadas sentem que o trabalho híbrido pode aumentar as chances das mulheres alcançarem posições C-level, enquanto 57% acreditam que ser capazes de participar de reuniões virtualmente (o que sugere práticas flexíveis de trabalho) também pode aumentar as chances de alcançarem escalões mais altos nas empresas. Para 48% das mulheres entrevistadas, licença parentalidade ou períodos sabáticos também podem contribuir para se chegar a cargos de mais senioridade nas companhias.
Para Flavia Ribeiro, diretora da Kearney, o levantamento mostra que progressos estão sendo feitos. Mas, e este é um “mas” extremamente significativo, esse progresso se dá principalmente na aceitação dos problemas e na ambição de mudá-los.
Para que as empresas realmente avancem é preciso agir, e essa ação não pode vir apenas daqueles que desejam mudanças. “Sem o apoio de organizações inteiras, a verdadeira equidade e diversidade permanecerão apenas um ponto de discussão, uma esperança que é frequentemente discutida, mas aparentemente nunca alcançada”, avalia Flavia. “Criar oportunidades e promovê-las para todos, independentemente de gênero, religião, raça ou credo, é vital. O que o mundo precisa hoje é de líderes que ajudem a garantir que ferramentas e práticas sejam desenvolvidas e implementadas para promover a igualdade nas empresas”, finaliza.
Sobre a pesquisa
O levantamento foi conduzido pela Kearney junto a 1.007 mulheres em posições de liderança sênior em empresas nos Estados Unidos, Reino Unido e Singapura.