*Por Sergio Risola
O empreendedorismo feminino cresceu muito nos últimos anos, mas infelizmente ainda convivemos com números vergonhosos no Brasil que podem e estão sendo melhorados, mas precisamos acelerar essas mudanças. Estudos recentes mostram uma realidade alarmantemente desigual no ecossistema de inovação brasileiro onde mais de 90% das startups ainda são fundadas apenas por homens.
No Brasil, no empreendedorismo tradicional, 46% das empresas são fundadas por mulheres. No ecossistema de inovação brasileiro apenas 9,8% dos empreendimentos inovadores têm mulheres a frente dos negócios e só 4,7% têm mulheres como fundadoras de startups.
Os dados são da recente pesquisa Female Founders Report 2021, da Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy, empresa que capacita e conecta mães ao sistema de inovação. O estudo foi realizado com uma mostra de 6.200 empreendimentos, que representam 48% do universo de 13 mil startups existentes no ecossistema brasileiro.
Há 10 anos, 92,1% eram fundadas apenas por homens, outras 3,5% eram fundadas por ambos os gêneros e apenas 4,4% eram fundadas apenas por mulheres. Hoje esse número é 4,7%, ou seja, estamos falando em 10 anos de uma mudança de menos de 0.3% no número de startups fundadas por mulheres.
Melhores resultados
O estudo mostra também que se for considerado a proporção de mulheres que recebem investimento, a proporção não chega nem a 1%. O Branco Mundial também faz sua mea culpa e apontou que apenas 7% do total de investimentos de risco nos mercados emergentes são destinados a negócios liderados por mulheres.
A ironia maior disso tudo é que as startups que têm mulheres do sexo feminino no quadro societário têm 25% melhores resultados. Portanto, garantir espaço para as mulheres contribuirá para causar impactos econômicos positivos e gerar retornos financeiros significativos para investidores e organizações.
Os números do empreendedorismo feminino
Outra fonte de informação que confirma esse cenário assustador é a pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2020, que mostra que para cada duas pessoas do gênero masculino que empreendem, há apenas uma pessoa do gênero feminino.
Quando olhamos apenas para o universo das startups, o cenário fica muito pior. Para se ter uma ideia da atual situação, a ACE Startups, uma das maiores aceleradoras da América Latina, realizou estudo em 2020 para identificar o perfil dos fundadores de startups e Venture Capitals (VCs) brasileiras, analisando o perfil demográfico, idade média e gênero dos fundadores, além de experiências anteriores e outras categorias.
No nosso país temos um tremendo buraco: apenas 9,8% dos fundadores são mulheres e 90,2% são homens. No caso dos EUA, Reino Unido, China e Canadá, por exemplo, a diferença é um pouco menor, mas ainda muito longe do ideal.
Cietec números similares a de países desenvolvidos e em ascensão
Aqui percebemos que os resultados do Cietec estão muito mais próximos do grupo de países pesquisados do que do Brasil, já que nossos números são exatamente esses 28% de mulheres como fundadoras e 72% das nossas startups são fundadas apenas por homens.
Temos lindas histórias de mulheres que empreenderam e que hoje colhem muitos frutos. É o caso da Paula Gomez, fundadora e CEO da Epistemic App, que desenvolveu um dispositivo completamente inovador, com o intuito de avisar, em até 15 minutos de antecedência, pacientes com epilepsia sobre uma crise epiléptica que ainda está por vir, para que tenham uma maior qualidade de vida.
O dispositivo da Epistemic conta com dois eletrodos minúsculos e secos – que ficam conectados ao hardware com conexão bluetooth e presos à cabeça por meio de pressão -, que analisam os padrões das ondas cerebrais em tempo real. Quando há qualquer tipo de alteração, o dispositivo dispara um alerta. A Paula decidiu investir e inovar nesse campo porque sua mãe tem. Inclusive, a própria mãe, que é formada em física, ajudou a desenvolver a tecnologia.
A Maria Izabel Fittipaldi, fundadora e CEO da Protect Mais, é outro baita exemplo que está conosco. Graduada em Farmácia pela Universidade de São Paulo, a Izabel me contou que sempre demonstrou insatisfação com as embalagens de alumínio dos remédios e, por isso, teve a ideia de desenvolver uma embalagem mais sustentável.
Para isso, estudou sobre as possibilidades de impermeabilização dos papéis e, em 2016, ela conseguiu prototipar uma embalagem feita de papel e com uma proteção parecida com a do alumínio. Agora utiliza nanotecnologia em polímeros para produção de embalagens de produtos farmacêuticos.
Esses são dois exemplos de mulheres de muita garra e que estão crescendo cada vez mais. Eu fico realmente muito feliz de fazer parte dessa história e conseguir contribuir um pouquinho com essas e tantas outras startups que estão no Cietec. Espero que em um futuro próximo possamos ajudar muitas outras.
*Sergio Risola é diretor-executivo do Cietec.