As dores muitas vezes não possuem causa específica e podem trazer prejuízos sociais e econômicos
Em 2017, a lombalgia – popularmente chamada de dor nas costas – foi a doença que mais afastou brasileiros do trabalho. De acordo com o INSS, foram 83,8 mil casos no ano. É estimado que entre 65% e 90% da população mundial sofrerá pelo menos um episódio dessa dor que gera impactos pessoais, ocupacionais, sociais e econômicos.
Quando a doença se torna crônica, os impactos são ainda maiores. Só nos Estados Unidos, segundo recente artigo publicado no livro Tratado da Dor, a estimativa é que a lombalgia crônica tenha um custo anual estimado de US$ 635 bilhões, incluindo despesas médicas diretas e perda de trabalho e produtividade.
Para o coordenador do Comitê de Dor e Medicina do Trabalho da SBED – Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, Dr. Marcos de Toledo, embora alguns pacientes com lombalgia tenham as causas identificadas para suas dores, muitas vezes não há associação clara entre dor e doenças identificáveis da coluna vertebral.
“Foca-se ainda muito no resultado anatômico do problema e, nisso, temos um grande desafio. Quando o paciente busca o médico do trabalho, normalmente a comprovação padrão da doença que o impede de trabalhar são os exames de imagem” comenta o médico. “Acontece que a dor pode ser mais complexa e com origem inespecífica. Por isso faz-se necessário um olhar multifatorial dos especialistas, que deverão produzir um relatório médico detalhado, para que o funcionário possa pleitear seus benefícios, se for o caso” explica.
Fatores complicadores
As dores nas costas podem estar relacionadas à diversos fatores, como envelhecimento natural, estresse, sobrepeso e tabagismo. A dor por si só pode ser também um sintoma, seja de problemas ginecológicos, renais ou de outras patologias relacionadas à dores crônicas, como osteoporose e fibromialgia.
Além dos inúmeros fatores biológicos, existe a lombalgia ocupacional, em que o prejuízo atrelado às profissões podem acelerar ou causar a dor. Uso excessivo de computadores no trabalho, ofícios que envolvem carregamento de carga e longas jornadas de trabalho são fatores agravantes.
A importância de falar sobre dor no ambiente de trabalho
Para Dr. Toledo, não há nada pior para o paciente com dor crônica que afastá-lo do convívio social. Por isso, em muitos casos, ao invés do afastamento, é indicada a reabilitação profissional do paciente, caso ele tenha condições de ser reinserido no ambiente de trabalho.
A reabilitação profissional é hoje uma atribuição do INSS, mas o médico acredita que cabe também ao empregador assisti-lo nesse período. “Essa reabilitação é importante, e falar sobre isso no ambiente de trabalho pode trazer mais confiança no relacionamento entre o funcionário e seu gestor, principalmente porque, muitas vezes, o funcionário retoma em outras funções laborais” comenta o médico.
“Em todos os casos, é fundamental a relação entre o paciente e seu médico, pois existem uma série de medidas, inclusive preventivas, que podem auxiliar tanto o trabalhador quanto empregadores e poder público” conclui Dr. Toledo.