Levantamento do DIEESE mostra que somente no terceiro trimestre de 2023, pessoas pretas ganharam em média 39,2% a menos do que as não pretas
Em 21 de março é celebrado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, data que reconhece as conquistas e batalhas em prol dos direitos sociais de todas as raças. A data carrega um importante significado, já que o preconceito racial existe nas várias camadas sociais e inclusive no ambiente de trabalho. Segundo levantamento divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), somente no terceiro trimestre de 2023, pessoas pretas ganharam em média, 39,2% a menos do que as não pretas e entre os desocupados, 65,1% eram pretos. Além disso, embora representem 56,1% da população em idade de trabalhar, os pretos ocupavam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência.
Outro estudo, da Fundação Getúlio Vargas, feito com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, aponta que a taxa de informalidade entre pretos e pardos era de 44,5% em 2022, enquanto entre pessoas brancas e amarelas era de 33%.
De acordo com Samantha Salese, Diretora de Gente & Gestão da Propay, empresa de serviços e tecnologia para RH, apesar de a mídia e a sociedade estarem abordando mais sobre o preconceito racial e a importância da luta contra a discriminação, ainda há grandes lacunas em relação à diversidade e inclusão no mercado de trabalho.
“Atualmente, vemos companhias que estão criando ações internas e oferecendo oportunidades e espaços para pessoas de diferentes raças, tendo um olhar diferenciado para este problema social. Porém, todo esse movimento precisa ganhar mais força e atingir inclusive, empresas menores que muitas vezes, não dão a devida importância para esta questão. É essencial ressaltar que os negócios não apenas devem contratar pessoas de diferentes etnias, mas de fato ouvi-las no dia a dia, permitir que tenham voz, oferecer oportunidades de crescimento e criar um ambiente respeitoso e que discuta com todos os colaboradores a importância da diversidade, o que também envolve gênero, sexo, entre outros”, diz.
Discriminação em processos seletivos e no trabalho
Uma pesquisa realizada pelo movimento Potências Negras mostra que 63% das mulheres pretas já foram discriminadas em processos seletivos para vagas de emprego e 62% afirmaram que sentiram a discriminação mais de uma vez. Ademais, 62% das mulheres afirmaram que foram discriminadas no ambiente de trabalho e a maior proporção de discriminação está nas classes A e B (67% e 69%, respectivamente).
“Dados como estes mostram que companhias têm muito o que mudar, sendo essencial que a área de recursos humanos auxilie líderes no aumento da diversidade nos ambientes corporativos por meio de contratações e ações constantes. Existem lideranças que ficam tão focadas em questões administrativas do negócio que não param para pensar sobre a inclusão e, por isso, o RH tem o desafio ainda maior de levar dados e ideias que permitam um ambiente melhor e plural. Os profissionais de recursos humanos precisam estar sempre atentos aos movimentos da sociedade, agindo com um olhar humano e respeitoso”, afirma a Diretora de Gente & Gestão da Propay.
Os problemas raciais em relação ao mercado de trabalho são profundos e envolvem questões como cultura e educação, e por isso, Salese acredita que órgãos governamentais, instituições de ensino e companhias devem investir cada vez mais na facilidade de acesso às áreas do conhecimento e informações sobre diversidade.
“Conhecimento é fundamental, sendo o que permite mudanças sociais. As pessoas não abraçam algo que não entendem de forma aprofundada e que não enxergam os problemas reais. Por isso, todos precisam investir em educação como caminho para a inclusão e diversidade”, finaliza.