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Aumento do teor de etanol anidro de 27% para 50% na gasolina pode reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 15% por quilômetro rodado, estima Kearney

 Consultoria estima redução de 5,4 milhões de toneladas de GEE emitidos com a troca em carros flex, mas prevê desafios para a indústria; estímulo ao etanol hidratado é uma alternativa para descarbonização

A Kearney, uma das maiores consultorias globais de gestão de negócios, divulgou nesta semana um novo estudo sobre o setor automotivo no Brasil. O levantamento analisou os caminhos mais viáveis e eficientes da indústria no sentido de apoiar os compromissos brasileiros de reduzir em 48% sua emissão de gases de efeito estufa (GEE) até 2025 – chegando a 53% de redução até 2030.

Ainda que a venda de carros elétricos tenha exibido crescimento globalmente, ela ainda constitui parte pequena do mercado automotivo brasileiro. Este cenário, de acordo com a Kearney, não apenas representa um desafio para a indústria local, que precisa se adequar para não se tornar obsoleta, como também coloca os holofotes em alternativas complementares à eletrificação, como o estímulo ao uso do etanol, biocombustível no qual o Brasil é referência, posicionando-se como o segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

O estudo destaca que, embora 91% dos carros e 51% dos veículos comerciais licenciados no Brasil em 2022 fossem modelos flex, o etanol ainda respondia por apenas 13% do consumo de combustíveis no país. “Os números evidenciam a necessidade de se estimular o uso de etanol, principalmente em regiões que não o Sudeste e o Centro-oeste”, analisa Sergio Eminente, sócio da Kearney especializado no setor automotivo. Uma das alternativas para isso, de acordo com o especialista, seria aumentar o teor de etanol na gasolina dos atuais 27% para 50%.

Segundo o estudo, considerando a frota de veículos flex, a mudança poderia representar um aumento de 104% no consumo de etanol anidro, uma redução de 25% de Gasolina A e, consequentemente, a diminuição de 15% na emissão de gases de efeito estufa por quilômetro rodado. Outro benefício projetado pela Kearney seria a geração de US$ 65 milhões em crédito de carbono, considerando o preço médio de US$ 12/tonelada de GEE emitido.

“Esta seria uma alternativa bastante viável e interessante quando consideramos que o Brasil possui capacidade instalada nas plantas para ampliar sua produção de etanol anidro na quantidade demandada”, analisa Eminente. “Sabemos também que incentivos relevantes e convincentes por parte do governo são imprescindíveis e complementares para o atingimento de metas de redução de CO2.”

Pontos de atenção

O estudo destaca alguns pontos de atenção no cenário de migração para E50 em carros flex. Entre eles estão:

  • 16% da frota de automóveis no Brasil não estão preparados para combustível E50;
  • Infraestrutura de transporte e armazenamento não preparadas para o aumento no teor do etanol;
  • 73% do total de carros ainda são abastecidos com gasolina, mesmo entre os automóveis flex, a gasolina ainda é o combustível mais usado;
  • A gasolina E50 traz um aumento de 9% no preço médio/km rodado devido ao elevado preço do etanol anidro em relação à sua eficiência.

Etanol hidratado

Eminente afirma que, diante desses obstáculos, outra alternativa para a redução na emissão de GEE seria o estímulo ao etanol hidratado. “Trata-se de um combustível que traz benefícios similares ao do etanol anidro ao mesmo tempo em que mitiga parte dos riscos”, diz. Por exemplo, não se faria necessário adequar a frota de veículos e infraestruturas. Além disso, se eliminaria a divergência de padrões globais que poderiam afetar o comércio exterior.

De acordo com o levantamento da Kearney, ao aumentar o uso do etanol hidratado em 22 pontos percentuais nos carros flex seria possível alcançar a mesma redução que seria obtida se 100% dos carros flex que usam gasolina E27 migrassem para E50.

Eletrificação

Embora o Brasil ainda não tenha decolado no mercado de BEVs (veículos elétricos a bateria), a Kearney estima um mercado potencial deste tipo de automóveis superior a 450 mil nos principais países da América Latina (Brasil, Chile e Colômbia), região na qual o Brasil está bem posicionado. Segundo o levantamento, o mercado brasileiro deve chegar a 363 mil unidades comercializadas até 2030, respondendo por 3,3% das vendas totais no país. “O preço dos BEVs ainda são o maior impeditivo para o crescimento nas vendas. No entanto, com a maturação da tecnologia, a tendência é que aumente a competitividade desses veículos em relação aos de motor a combustão (ICE)”, analisa Eminente.

De acordo com a análise da Kearney, as demandas de energia para BEVs não representarão um aumento significativo para a infraestrutura de geração de eletricidade. A demanda total de energia da frota de BEVs, que em 2023 respondeu por apenas 0,01% do envio atual de energia subiria para 2,11% em 2035.

Há ainda outros fatores que favorecem o mercado de BEVs no Brasil, especialmente quando se pensa na eletrificação urbana. Entre eles está o bom nível de investimentos que já vêm sendo feitos em infraestruturas para esses veículos nas grandes cidades. “Se considerarmos que atualmente boa parte da recarga é realizada em casa e que ela é normalmente suficiente para que os usuários realizem seus trajetos cotidianos dentro do perímetro urbano, a complexidade para que esses veículos operem diminui significativamente”, avalia Eminente.

Desta forma, diz o especialista, quando pensamos em trecho urbano, a eletrificação tem um potencial muito importante para a descarbonização. “A equação de custo, tecnologia, desempenho e disponibilidade é interessante, o que nos faz imaginar que BEVs e veículos a etanol – ou flex rodando a gasolina com maior percentual de etanol – ainda conviverão por um bom tempo, representando juntos ótimas alternativas para a descarbonização.


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