Você investiria em uma mineradora que não está fazendo nenhum esforço para reduzir o impacto de sua atuação no meio ambiente? Ou faria negócios com uma empresa que não se preocupa com igualdade de gênero e cujas políticas de remuneração não são justas? Se a resposta foi “de jeito nenhum” para as perguntas acima, continue lendo esse texto!
As organizações são cobradas a assumir o controle de seu impacto no mundo e torná-lo o mais positivo possível. Na prática, essa transformação se materializa no ESG, sigla em Inglês para Meio Ambiente, Social e Governança.
Não à toa, “A Comunicação e o Capital Ético” é o tema desse ano da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Entre outras ações que ocorrerão em 2021, a entidade firmou uma parceria com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Juntas, as duas viabilizarão uma pesquisa inédita sobre comunicação corporativa no setor financeiro e de capitais no Brasil.
Paulo Nassar, presidente da Aberje, explica que o conceito de capital ético não é exótico ou influenciado por algum acontecimento em campos de atividade restritos. Aliás, não é nem mesmo totalmente novo. Na década de 60, já era possível perceber um movimento que se aprofundou nos anos seguintes e promoveu a convergência de vozes poderosas da comunidade internacional nessa direção.
“No entanto, atualmente, o que fica claro é que, cada vez mais, a narrativa de uma empresa deve ser feita por todos os integrantes da cadeia de valor e também por aqueles que são impactados por essa ação organizacional. Uma atuação produtiva não pode, de forma alguma, ser voltada apenas para os resultados econômicos”.
Por conta disso, o papel das áreas de comunicação e dos profissionais é promover a discussão dos conceitos de ESG, que vão dar sustentabilidade para a atividade das companhias.
Sob os olhares de quem investe
A verdade é que ESG sempre foi uma pauta constante para diversos stakeholders. A novidade é que meio ambiente, responsabilidade social e governança também passaram a ser observados com bastante atenção pelos shareholders.
Ou seja, os investidores entraram na roda de discussão de um modo bastante decisivo e isso tem um impacto imediato na comunicação das companhias, que tem o papel de alimentar as decisões do board. Lá estão os investidores que condicionam a movimentação de capital à qualidade dos indicadores de ESG.
“Um outro exemplo dessa transformação é que os cadernos de negócio dos grandes jornais do país e do mundo tinham uma pauta baseada em indicadores clássicos, como receita ou lucro. E isso mudou completamente. Periódicos extremamente tradicionais e respeitados, como o Financial Times e o Daily Telegraph, lançaram recentemente novos cadernos voltados ao mercado, mas sob o ponto de vista do ESG”, conta Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje.
“E se há dez anos, US$ 10 bilhões eram movimentados em função de indicadores sociais, ambientais e de governança, hoje o volume é de US$ 23 trilhões”, complementa.
Essas questões se tornam mais prementes, segundo Santos, porque com a queda dos juros há de crescer a migração do dinheiro para o mercado de ações. E os critérios de capital ético tendem a se tornar mais importantes para escolher em que empresas investir.
“Tudo isso demanda não apenas uma mudança de narrativa na comunicação, mas de postura. E essa a nova agenda que a Aberje quer ajudar a promover”, explica.
Retrospecto Positivo
No Brasil, é crescente o número de empresas que estão alinhadas a essa nova realidade, mas a realidade é que esse movimento vem sendo construído ao longo das últimas décadas, também por aqui. De acordo com Nassar, as primeiras narrativas consistentes com foco social ocorreram na década de 80, no auge da preocupação com o vírus da AIDS.
“Com a ajuda de Drauzio Varella, que ainda não tinha a notoriedade atual, a Goodyear produziu um boletim interno sobre o tema com uma qualidade impressionante. Essa publicação, que era para o público interno da empresa, acabou atingindo a marca de 10 milhões de exemplares, graças ao imenso sucesso que fez junto a toda a sociedade. Inclusive essa ação, na época, ganhou o Prêmio Aberje”, conta.
Ele lembra que dentro das relações público-privadas, também houve um grande impacto de governança nos últimos dez anos, com foco no combate à corrupção.
“Há temas relacionados ao ESG que discutimos há no mínimo 20 anos. Temos um tema muito valioso, mas o risco é polarizá-lo e politizá-lo. É importante frisar que esse é um tema do humano, independentemente de qualquer ideologia, que envolve toda a cadeia de valor e importam tanto para stakeholders quanto para shareholders. Todos habitamos o mesmo território e respiramos o mesmo ar. É fundamental entender a amplitude desse tema”, conclui Nassar.
Bônus! Quer saber mais?
Quer saber mais sobre capital ético, o papel da área de compliance e dos colaboradores de uma organização, nesse contexto? Também conversamos com Ágatha Camargo, professora e consultora da Aberje. Ela gravou um depoimento super bacana sobre o tema e te convido para ouvir!
Acesse o áudio e depois venha me dizer o que achou.