Antes de entrar em quarentena, estava em alta o negócio da comunicação interna com novos modelos de comunicação digital, engajamento… aquelas coisas de adaptação de técnicas de jornalismo e recursos humanos em plataformas digitais, com visão mercadológica de endomarketing e endocomunicação.
Agora, nesse isolamento, com o trabalho em casa e em família, estou esperando os publicitários aparecerem para criar a comunicação interna com apelo emocional e impor por meio da catarse o desejo de que todos serão felizes (ou a ideia de que já somos felizes).
Como muitos problemas surgiram com esse home office emergencial, imposto pela quarentena, pensei que, como um profissional de relações públicas, poderia estabelecer um processo oficial de comunicação interna na minha casa.
Home Swett Home Office
Como meu apartamento é muito grande, a primeira coisa que fiz foi instalar um sistema de viva voz. Um aparelho em cada ambiente, onde, de cada um deles, você pode mandar uma mensagem em viva-voz. Genial, não? Hoje, não é raro ouvir uma sonora voz: “pai, onde está você?”
Tentei também instalar um quadro de avisos, daqueles brancos magnetizados. Ideia prontamente rejeitada. Meu filho mais velho questionou: quem vai cuidar disso? Servirá somente para afixar as receitas da mamãe. E minha mulher retrucou: você não acha que eu vou tomar conta desse quadro, né?
O meu filho mais novo foi o único que concordou, dizendo: pai, quando for instalar, coloca o quadro mais baixo pra eu colar minhas figurinhas.
“Nossa comunicação interna é o relacionamento, pai”
Tentei de todas as maneiras convencê-los de que um bom plano de comunicação interna, estruturado com alguns meios de relacionamento e redes sociais poderia ser a solução dos nossos desencontros, de nossos problemas e conflitos internos e que só o WhatsApp seria muito impessoal e frio.
Sem sucesso, todos disseram que: “nossa comunicação interna é o relacionamento, pai”, ou ainda, “Esquece essa ideia de plano, de veículo, de workplace familiar…”, “Aqui é olho no olho, viu!”
A informação acontece por meio de pessoas!
Quando meus filhos eram pequenos, na maioria das vezes eu falava e eles ouviam. Eu determinava uma orientação e eles seguiam. É claro que predominava o respeito e o direito de cada um de se manifestar. Mas existia uma ordem natural familiar onde predominava uma orientação hierárquica.
Esse período durou o tempo suficiente para que cada um deles pudesse entender que ali predominava a liberdade, com respeito e livre de imposições e mensagens que não serviam para eles.
Também houve um tempo em que eles tentaram fazer com que as decisões e os direitos acontecessem de baixo para cima. Esse modelo prevaleceu por um pequeno período, até que eles entenderam que também não servia. Que existiam muitas questões que não podiam ser decididas por imposição de qualquer uma das partes, muito menos de resolver as coisas sob pressão de cima para baixo.
O melhor momento é quando as decisões são tomadas em conjunto, ponderadas, refletidas e decididas de modo inteligente. É importante sempre lembrar que em comunicação interna a informação acontece por meio das pessoas e a estrutura dos meios e veículos de comunicação funciona apenas como reforço, complemento.
Além disso, a comunicação interna deve ser funcional em todos os departamentos e envolver a todos, tornando-os engajados pelo comprometimento e garantindo o sucesso do processo.
Se a comunicação interna for implementada dessa forma, é inevitável que a informação chegue ao seu destino de forma ágil, com clareza e eficiência, evitando defeitos de interpretação, situações de conflito, gerando compreensão e aceitação por parte de todos.
Cada um de nós está vivenciando isso agora, na prática, só basta botar ordem na casa, literalmente. A comunicação processada por meio do relacionamento é muito mais eficaz.
E lá em casa…?
A única coisa que funcionou bem lá em casa, foi o sistema de viva-voz. Meu filho, outro dia mandou o seguinte: “se a Silvinha ligar pra mim, digam que estou no banho”. E deixou o John Mayer cantando para todos ouvirem.
Lá em casa a comunicação interna se processa pelo relacionamento, às vezes até de modo ruidoso, alterado, mas sempre, sempre pelo relacionamento. Desisti da ideia do plano de relações públicas para a minha comunicação interna de casa.
Quem sabe vc poderia iniciar o seu dia amanhã fazendo uma avaliação sobre como tudo isso está acontecendo em sua casa. Depois pergunte aos seus colegas de trabalho, em Home Office, como isso está funcionando na casa deles.
Não tenho dúvidas, o que eles responderem será o modelo que você deverá adotar para a comunicação interna de sua empresa e de seus clientes.
