Em 2012, na sede da Aberje, quando participei de um curso sobre endomarketing, recordo-me da primeira questão colocada pelo facilitador da atividade, professor Saul Bekin, com o seguinte anunciado – Respondam rapidamente: quem é o principal cliente de uma empresa ou organização?

Se a resposta fosse o colaborador dela, o caminho da reflexão prosseguiria. Afinal, já sabemos que os melhores embaixadores de uma marca ou de um determinado produto/serviço são as pessoas que estão em contato diário e constante com este. Não é mesmo? Com o qual exercem algum vínculo afetivo, emocional…

Inquieto, como sempre, lancei ainda uma outra questão para a classe: em tempos de outsourcing, de terceirização, como tratar então aqueles colaboradores contratados sob o regime temporário quando o assunto é endomarketing e comunicação interna? As empresas brasileiras atentam para isso?

Os pensadores e comunicólogos contemporâneos não titubeiam: devemos tratá-los como os demais colaboradores, afinal, são stakeholders como todos os outros. Mas na prática isso ainda está bem longe de acontecer.

Como gestor de diversas contas de comunicação interna, aqui na agência, deparei-me, durante todos esses anos, como uma série de políticas comunicacionais equivocadas, as quais, pasmem, ainda tratam terceirizados, estagiários, trainees e prestadores de serviços registrados sob outros CNJPs, que não o da contratante principal, como “extraterrestres” dentro da cultura organizacional.

Já constatei as seguintes práticas, apenas para citar algumas hein:

– “Aqui, em nossa empresa, terceirizado utiliza uma cor de crachá diferente, assim como a cor do cordão que o sustenta em seu pescoço, para facilitar a identificação dos funcionários próprios”

– “Aqui, os terceirizados não participam das campanhas de dia das mães, da mulher e outras de endomarketing, voltadas apenas aos funcionários próprios” – e olhem que havia alguns terceirizados diretamente ligados aos eventos e escolhas de brindes que rondavam tais celebrações.

– “Aqui, o call center fica em um andar separado. Não precisamos instalar peças de comunicação interna – como móbiles de teto e banners – no andar da unidade para que eles fiquem sabendo o que estamos fazendo de campanha para os funcionários próprios”.

Daí, hoje, leio o brilhante artigo de José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil, no site da Época Negócios, sobre a indústria de falhas na qual os call centers Brasil afora se tornaram e vejo que o buraco é bem mais embaixo.

Muitos gestores de comunicação organizacional perdem a oportunidade de fazer a diferença em suas empresas quando não se atentam para o fato de que englobar tais funcionários terceirizados nas campanhas de endomarketing é tarefa de vital importância para largarem na frente, fazendo com que as organizações para as quais trabalham se posicionem de forma eficiente, à frente de seu tempo, formando multiplicadores, agentes efetivos da comunicação que objetivam levar as boas novas para muito além dos muros.

E mais: que estes trabalhadores podem ser também interessante fonte de pesquisa e feedback, devendo ser ouvidos de forma constante e diferenciada, sempre. Afinal, muitas queixas e pedidos de informação acabam vindo parar neles, como autênticas “curvas de rio”, conforme costumamos dizer no interior.

Por se tratarem de pessoas que, às vezes, não possuem aquele chamado senso de pertencimento em relação à empresa em que atuam, mais do que nunca, é preciso um olhar atencioso e com zelo tão grande quanto o olhar que abraça os colaboradores próprios.

Devido ao alto turnover geralmente ligado à contratação de terceirizados para certas funções, a equação torna-se simples de entender:

Se os mesmos não se sentem parte integrante da empresa onde atuam e, ainda por cima, veem a empresa empreendendo práticas diferenciadas entre uns e outros, como irão defender a marca no mercado, se na pele sentem, todos os dias, que a organização não lhes dá o devido respaldo, os trata como dígitos na folha de pagamento ou em meio ao budget que dispõe? Difícil, não é mesmo?

Do contrário, eles cultivariam raízes, o desejo de retornar à “boa casa” ou até tornariam-se defensores consistentes da missão, visão e valores muito bem estampados nas paredes dos corredores pelos quais circulam diariamente.

E como fazer isso?

Simples! Por meio de um planejamento amplo e estratégico de comunicação interna que contemple quem ainda está fora da curva. Mais do que nunca, é tempo de abrigá-los!

Sua empresa já encontra-se nessa caminho? De que forma ela faz isso? Converse conosco a respeito.